
E qual o melhor?
Os Estoicos encontram a felicidade na virtude, enquanto os Epicuristas, no prazer.
Os Estoicos procuram uma vida de dádiva ao mundo, e os Epicuristas dizem para fugirmos das multidões e da vida politica porque isso só nos vai deixar descontentes e frustrados.
Os Estoicos refutam a existência de Deuses nas nuvens e dizem que mundo é controlado por uma força lógica e racional - o Logos. Os Epicuristas acreditam que os Deuses são seres supremos que vivem em harmonia e serenidade e que pouco mais se poderiam interessar com a vida dos “pobres” humanos. A sua presença é para contemplação, não veneração.
Agora honestamente, duvido que iremos chegar a uma resposta de qual o melhor. Isso cabe aos que lêem. Mas o que eu posso fazer é um aglomerado de argumentos entre os dois.
E bem vindos. É isso que estou aqui a fazer hoje.
Ambas as filosofias de Zenão e Epicuro que surgiram por volta dos mesmos anos de 300 A.C defendem que devemos evitar prazeres e desejos excessivos.
Até ai acho que já tínhamos chegado.
O Estoico com um passado de escravidão, Epicureto, tem apenas uma passagem gravada que refere Epicuro como um “pregador de efeminação e abusador“. Ok…
Em contraste, Sêneca retirou imensos ensinamentos Epicuristas, como se pode ler nas “Cartas de Sêneca” onde o mesmo refere o nome de Epicuro nas primeiras 30 cartas.
Justificou-se assim:
“É possível perguntar-me porque menciono tantas das palavras nobres de Epicuro em vez de palavras da nossa própria escola. Mas existe alguma razão porque devo considerá-las como palavras de Epicuro e não como senso-comum?”
Se há aqui alguma coisa que podemos já aprender, é que só por haver rivalidades ou inimigos do outro lado do campo, podemos ainda assim aprender algo com eles. Conhecimento é conhecimento.
No outro lado da moeda, apenas o mais conhecido discípulo de Epicuro, Lucrécio, escreveu sobre os estoicos nos seus poemas, mas sem grandes comentários. Lucrecio na verdade argumentou muito mais os pontos de Aristóteles e Platão. Tema para outro artigo…
Vamos olhar agora para dentro da sopa de ideias das filosofias, começando por analisar a morte.
Não temas os deuses.
Não temas a morte.
O bem pode ser alcançado.
O mal pode ser suportado
— Epicuro
Apesar de não ter explorado o sentido da morte de Epicuro, ele escreve assim: “Neste dia feliz, que também é o último da minha vida, escrevo isto para ti.“
Feliz? Sim, feliz.
Os Epicuristas têm um principio ético sobre a morte. Como sabemos, para atingir a ataraxia, precisamos de estar um bom espaço fisico e mental. E o que atormenta mais o homem senão a morte? Epicuro explica que quando existimos a morte não está presente, e quando a morte está presente nós já não existimos.
As coisas boas ou más consistem em experiências sensíveis, e a morte é a privação da sensibilidade.
"O sábio epicurista nem rejeita a vida nem vive com medo da morte”
Os estoicos também não temem a morte e fazem dela uma presença constante.
“Podes-me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte.”
Como escrevi anteriormente, “A lembrança recorrente da morte é uma alavanca para a apreciação do presente. Para compreender a finidade de todos os momentos e, como tal, nunca parar de contemplar a beleza que é a vida.”
Ambas as filosofias procuravam a virtude.
Para os Epicuristas, a virtude era apenas um meio para uma vida feliz e o bem supremo era o prazer. Para os Estoicos, o bem supremo era simplesmente a virtude e a felicidade é a consciência de ser virtuoso.
“Deixa a virtude mostrar-te o caminho: assim, cada passo será seguro.” - Sêneca
Como podem provavelmente concluir, apesar das ideias de ambos recomendem que vivamos de uma maneira semelhante, acabam por apontar-nos para ideais diferentes.
Ambos querem a ausência de dor na vida; Epicuristas por viverem frugalmente e na presença de amigos, e os Estoicos pela aceitação do rumo da natureza (Logos).
O Estoico, na teoria, consegue em qualquer situação ser feliz aceitando quaisquer obstáculos ou tragédias como parte do plano no universo. Isto porque todos temos a capacidade de olhar para o que nos acontece com as lentes que quisermos.
O Epicurista encontra a felicidade não de uma maneira hedonista como ás vezes é interpretado, mas apenas com o necessário e natural. Uma mente clara é mantida por uma vida simples e boas amizades.
O que acham?
Muito ainda se pode falar sobre as concepções do mundo e a participação na sociedade, mas como não gosto de falar de coisas que não domino, deixarei isso para outra ocasião.
Um bem haja, e tenham um excelente fim de semana!